A SUFICÊNCIA DE CRISTO NA LIMITAÇÃO HUMANA

15/06/2009 04:22

 

A SUFICIÊNCIA DE CRISTO NA LIMITAÇÃO HUMANA
Marcos 6.35-44

INTRODUÇÃO
 
Não posso deixar de rir ao recordar de uma situação que ocorrera comigo há cerca de sete anos atrás. Uma amiga minha, que estava no terceiro colegial, dava aula num cursinho popular de vestibular, para a comunidade. Como eu havia passado uns dois anos estudando para o vestibular de Escola Técnica, mesmo estando ainda no segundo colegial, decidi aceitar o desafio dela para dar aulas da matéria de química no cursinho.

Fiz a entrevista com a coordenadora do curso e fui aceito como docente. O cômico é que depois de me comprometer, um dia antes da minha primeira aula, comecei a "tremer na base" e sentir bastante medo de enfrentar aquela situação. Disse aos meus pais que eu não daria mais a aula e pedi que um deles desse a aula em meu lugar. Graças a Deus, acabei enfrentando a situação e foi uma experiência enriquecedora.

Mas, não é incomum lidarmos com situações como a que descrevi acima, em que nos sentimos totalmente incapazes de enfrentar. Tentamos fugir, evitar e não precisar passar por elas. Pensamos que fracassaremos e nos frustraremos. Lembro de uma amiga que, apesar de sua preparação num seminário teológico e piedade, sempre era perseguida pelo medo de assumir responsabilidades em sua igreja local. Sentia-se incapaz, inapta e, por fim, ficava paralisada diante da oportunidade de servir.

Hoje, encontraremos os discípulos de Jesus experimentando essa inadequação diante do desafio oferecido por Ele. É nesse momento, então, que presenciam a suficiência de Cristo em suas limitações.

NOSSA INSUFICIÊNCIA SE EVIDENCIA DIANTE DA ENORME NECESSIDADE HUMANA – vv. 35-38

No texto anterior de Marcos, vemos o retorno dos discípulos a Jesus, após a missão que Ele lhes encarregara. Na volta, Jesus os convida para se retirarem de barco e descasarem um pouco. Após a viagem pelo mar da Galiléia, descobrem que havia uma grande multidão os esperando ansiosa. Movido por compaixão, Jesus se volta para aquelas pessoas e passa a ensiná-las.
Ao olharmos para esta passagem, não podemos nos esquecer que Jesus está treinando seus discípulos e preparando-os para o ministério. Nela, Jesus busca ensiná-los a depender dEle, assim como exerceram sua missão debaixo da autoridade do Mestre (Mc 6.7-13).

Como o Pastor que supre a necessidade das ovelhas num amplo pasto verdejante, Jesus passou um bom tempo ensinando àquelas pessoas, a ponto de ser hora avançada para que elas pudessem viajar e encontrar alimento necessário para o restante do dia. Cientes disso, os discípulos passam a avisar Jesus do horário e da necessidade que elas tinham de comprar o alimento para a noite. O verbo imperfeito no grego denota um aviso contínuo dos discípulos ao Mestre. Usando um pouco de criatividade santificada, talvez, a cada cinco minutos vinha um deles e o lembrava do horário.

Jesus responde àqueles homens jogando sobre eles a responsabilidade de alimentar a multidão, "Dêem-lhes vocês de comer". Ele não se limitou, apenas, em se preocupar com as pessoas na questão do horário oportuno para adquirirem seu alimento. Foi muito além, queria proporcionar-lhes o próprio pão de que precisavam.

Sem entender Jesus, os discípulos manifestam sua total incapacidade de fazer aquilo que Ele dissera. De onde eles tirariam duzentos denários, oito meses de salário de um trabalhador, para comprar pão suficiente àquela multidão?! Jesus pergunta sobre a quantidade de comida que havia entre eles. Eles vão atrás para saber e descobrem que havia apenas cinco pães e dois peixes. Como alimentariam mais de cinco mil pessoas com essa quantidade de comida?!

Fica evidente, portanto, a total incapacidade dos discípulos, com todos os seus recursos, de prover o alimento àquela multidão que se reunira ao redor de Jesus. Aqui, o Mestre começa a desmontar qualquer auto-suficiência humana. É exatamente este tipo de confissão que Ele queria ouvir e escuta: "Não podemos alimentar este povo!". Somente quando se reconhece a limitação humana para realizar algo, por si só, que se inicia a experiência da suficiência de Cristo em nossas vidas.

Que situações de sua vida você se sente incapaz de enfrentar? Onde você tem percebido suas limitações?

Talvez numa tarefa do trabalho que você encontra dificuldades para realizar devido à falta de recursos ou limitação pessoal. Ou percebe a dificuldade de lidar com pessoas no seu emprego que o desprezam ou o tratam com indiferença e já não sabe mais como responder a elas.

Pode ser a dificuldade de evangelizar os que estão ao seu redor, percebe apatia em sua vida espiritual para com aqueles que estão perdidos, mas, ao mesmo tempo, não consegue encontrar motivação para compartilhar da salvação.

Quem sabe tem sido dominado pelo medo de assumir responsabilidades que o Senhor tem lhe concedido para serví-lo, por temer pelo seu desempenho. Talvez, haja um pecado que o assedie e muitas vezes conquiste espaço em sua vida e parece que é impossível vencê-lo.

Se você percebe sua pequenez e insuficiência em algumas destas situações, é exatamente aí que Deus deseja chegar com você. Porque a força e o poder para enfrentá-las não reside em nós, mas na Suficiência do nosso Salvador, como o texto continua a mostrar.
 

A SUFICIÊNCIA DE CRISTO SE MANIFESTA POR MEIO DE NOSSA INSUFICIÊNCIA – vv. 39-41

É muito interessante que, apesar da limitação dos discípulos, Jesus os envolve, bem como os seus recursos, na demonstração de Sua divindade e suficiência.

Primeiramente, lhes dá a incumbência de organizarem as pessoas em grupos, sentados sobre a grama verdade do monte. Os discípulos cumprem a ordem do Mestre e dividem a multidão em grupos de cinqüenta e de cem.

Depois, num gesto gráfico descrito por Marcos, ele toma os pães e peixes, ergue os olhos para o céu, dá graças e parte os pães. O Filho não pôde deixar de reconhecer a presença do Pai no suprimento do alimento, como ensinara constantemente a seus discípulos (Mt 6.9-11, 25-33). O gesto de quebrar os pães e distribuí-los era comum aos hospedeiros judeus que iniciavam a refeição, quebrando o pão em pedaços e distribuindo aos seus convidados. O banquete aqui é certamente um contraste marcante com o banquete oferecido por Herodes, há poucos versículos atrás. Enquanto no de Herodes, prevaleceu a injustiça e desonra contra um inocente, aqui o amor e justiça de Jesus foram evidentes na distribuição do alimento.

Além de usar o recurso limitado dos discípulos, cinco pães e dois peixes, Jesus os envolve na distribuição do alimento que é dado a todos, sem exceção. É na insuficiência dos discípulos que Jesus revela Sua completa suficiência e os torna cooperadores no ministério que proclama Sua glória e graça divina à multidão ali presente. Somente o próprio Deus poderia alimentar aquela imensa multidão e multiplicar o alimento. À semelhança do suprimento do maná no deserto durante o êxodo, aqui o próprio Deus encarnado supre a multidão no deserto.

Jesus continua a nos convidar para participarmos do serviço que promove a Glória da Graça Suficiente dEle. Fomo salvos para o louvor da Sua gloriosa graça (Ef 1.6)! Apesar de nossas limitações, Ele nos chama a participarmos da promoção de Seu reino entre os homens. Não porque somos bons, capazes, ou sábios, mas exatamente o contrário, é por meio dos fracos deste mundo que Deus que Deus demonstra o Seu poder (1 Co 1.25-27).

Encaramos os desafios do trabalho e os relacionamentos difíceis sustentados pela graça de Deus que nos capacita a realizar a Sua vontade. Evangelizamos motivados pelo amor de Cristo que nos constrange e que foi derramado em nossos corações por Deus mediante Seu Espírito (2 Co 5.14, 15; Rm 5.5).

Servimos a Ele, motivados pela Sua graça que nos salvou e nos chamou para servir (1 Tm 1.12-14; 2 Tm 1.8-11). Vencemos o pecado que nos assedia pelo poder de vida do Espírito Santo (Rm 8.1-14; Gl 5.16-18, 24-25).

Nada fazemos porque temos força suficiente em nós mesmos, mas porque a salvação que nos alcançou nos capacita a viver, a fim de promover a glória da graça suficiente de Deus, para que outros a vejam e a conheçam.

A SUFICIÊNCIA DE CRISTO SATISFAZ PLENAMENTE A NECESSIDADE HUMANA – vv. 42-44

No final do texto, encontramos o relatório de que todos comeram, a ninguém faltou nada, mas todos se fartaram. Ainda sobrou alimento. Foram doze cestos cheios de pedaços de pães e peixes! Mais de cinco mil pessoas se alimentaram muito bem com apenas cinco pães e dois peixes! Cristo satisfez a necessidade das pessoas naquele momento. Os discípulos poderiam ter certeza de que debaixo de Seu senhorio desfrutariam do mesmo cuidado e nada lhes faltaria, toda necessidade seria plenamente satisfeita.

Jesus é suficiente para suprir todas as nossas necessidades, como diria o salmista, Ele é o nosso Pastor e nada nos faltará! (Sl 23.1). Não podemos jamais confundir desejos e ambições com necessidades. Nossa insatisfação com a suficiência de Cristo é exatamente porque queremos beber da água que não mata a sede. Investimos nossos recursos naquilo que não é pão e nem satisfaz (Is 58.1-2). Aí, agimos como o povo de Israel no deserto que, apesar do cuidado contínuo e sempre presente de Deus, nunca se alegrava na suficiência de Deus.

Precisamos crer que a presença de Cristo é e sempre será suficiente em nossas vidas. Independentemente, de termos uma namorada ou namorado, uma família estruturada, ou aquele aumento tão desejado. Como bem lembrou Sérgio Pimenta, não é "a casa repleta de amigos, paredes e pisos coberto de bens", nem curtir "um fim de semana" que nos trará satisfação.

A felicidade em nossas vidas se dá por meio da confiança no cuidado sábio e amoroso que nosso Salvador e Senhor tem por nós.
 
Pr. Tiago Abdalla T. Neto 
 
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